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29 de setembro de 2010

Dona Weslian Roriz e a vergonha alheia

Quatro vezes governador do Distrito Federal e ex-candidato às próximas eleições, Joaquim Roriz é o protagonista de uma história que mistura deboche, menosprezo pelas leis eleitorais e desrespeito com a própria mulher, dona Weslian. Depois que o Supremo Tribunal Federal chegou a um empate e não decidiu se legaliza ou não a candidatura de Roriz (o caso acabou arquivado hoje, no fim do dia), ameaçada por seu histórico nada limpo junto à Justiça, Roriz achou por bem renunciar e deixar, no seu lugar, “uma representante”. A escolhida foi “a amada mulher, companheira de 50 anos”, Weslian Roriz.
No próximo domingo, o eleitor do DF que apertar o número de Roriz nas urnas verá a foto de Joaquim, mas estará escolhendo sua mulher. A estratégia do “Casal 20″ – uma referência ao número da legenda do PSC – foi considerada genial por uns, absurda por outros e ilegal por procuradores eleitorais do DF que tentam anular a candidatura de Weslian. Alegam que, se a prática se espalhar pelo país, haverá muito mais candidaturas-laranjas, institucionalizando uma fraude eleitoral que a legislação visa coibir.
Weslian Perpétuo Socorro Roriz tem 67 anos. Está casada há 50 anos com Joaquim Roriz, com quem teve três filhas: Wesliane, Liliane e Jaqueline. Ao longo da carreira política do marido, dona Weslian foi a típica primeira-dama que distribuía cobertores à população carente do entorno de Brasília e se dedicava a ações sociais. Ela é conhecida nas cidades-satélites e ganhou a solidariedade de última hora de mulheres de outros candidatos que resolveram subir no palanque para lhe dar apoio.
Católica praticante, Weslian tem aquele jeito de dona-de-casa apegada a valores tradicionais e opiniões que flertam com idéias pouco consistentes sobre a realidade. Foi o que se viu ontem à noite, no primeiro debate a que ela compareceu como candidata, promovido pela Rede Globo. Entre outras respostas “vagas”, dona Weslian garantiu que, no seu governo, nenhuma irregularidade será cometida, em vez de propor ações de combate à corrupção. Dá para acreditar?
O despreparo de dona Weslian, estranha à situação, ficou óbvio. Confesso que, primeiro, eu ri porque parecia piada a forma desencontrada como o debate se desenrolava quando era sua vez de responder ou perguntar. Depois, o riso cedeu à pena e, finalmente, veio minha revolta. “O Roriz não deveria ter exposto a mulher dele assim”, disse, já indignada, ao meu marido, que assistia ao debate comigo. Ela ficou exposta à piada, a um vexame televisionado, procurando falas nos papéis com etiquetas coloridas que lhe entregaram.
Pensando bem, Weslian tem os mesmos defeitos de muitos candidatos espalhados pelo país. Não tem ritmo para ler parecendo natural. Não tem discurso convincente nem noção do tempo de um debate – algo realmente difícil até para políticos treinados. Ela conseguiu ser bem mais breve do que permitia o exíguo tempo dado para as respostas. Não tem forma nem conteúdo político. O que a difere dos demais candidatos que igualmente “pagam mico” em propagandas gratuitas na TV é que ela não estaria ali não fosse uma decisão do marido.
Weslian tentou justificar sua candidatura ao perguntar para o candidato Toninho do PSOL se ele tinha alguma coisa contra esse ato “de solidariedade entre um casal”. Outra idéia romântica da realidade. Não considero solidariedade uma mulher bancar a laranja de uma empresa de fachada para o marido, por exemplo. Isso tem outro nome. É crime.
Eu não tenho nada contra casais solidários, muito pelo contrário, mas ser companheira de 50 anos não faz de dona Weslian uma pessoa preparada para governar. Não vou aqui entrar no mérito do que dona Weslian aprendeu ou não com o marido, um veterano em eleições e escândalos. Quem quiser saber um pouco mais dele, entre nos links abaixo. Mas, ao colocar a própria mulher nessa situação, Joaquim Roriz revelou uma face lamentável do machismo, o machismo que expõe a companheira ao ridículo, que revela uma subserviência entre os sexos que ainda resiste, e que não se inibe ao ver a própria mulher tentando provar o improvável: que ela iria governar, caso eleita. O “casal 20″ trata o inusitado da situação como “uma prova de amor”.
Não constam informações de que ela tenha se arrependido de ir ao debate – ainda. Ela até declarou que estava lá espontaneamente. Vai ver Weslian é dona de um humor que desconhecemos e achou graça de si mesma tentando bancar a candidata convicta. Dona Weslian estava bem maquiada, vestida e penteada. Uma senhora de ótima apresentação, sem dúvida. A fragilidade de sua exposição aniquilou até eventuais ataques dos adversários, que lhe trataram com deferência durante o debate, repetindo perguntas que ela não entendia e não debochando das respostas sem pé nem cabeça. Para quem não mora no DF e não a conhece, tem alguns vídeos na internet com trechos do debate. Compartilho um deles aqui.



Pensem nas suas mães e nas suas avós que nunca quiseram ser candidatas e imagine-as participando de um debate político. E aí, o que você está achando de tudo isso?

Um comentário:

  1. É isso que o partido quer... Que tenhamos dó... Assim comovem os eleitores e conseguem mais votos pra essa quadrilha...

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