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25 de julho de 2009

Fora Sarney


O Conselho de Ética do Senado já recebeu 11 ações contra ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). São cinco representações - duas do PSOL e três do PSDB - e seis denúncias - quatro de autoria do líder tucano Arthur Virgílio (AM) e duas assinadas em conjunto por Virgílio e Cristovam Buarque (PDT-DF). Um parlamentar acusado de quebra decoro pode, se o processo é aprovado em plenário, perder o mandato.



As duas denúncias apresentadas por Virgílio e Buarque foram registradas no Conselho de Ética no começo da noite. A primeira é baseada em reportagem publicada hoje pelo jornal "Folha de S.Paulo" segundo a qual Sarney teria vendido propriedades sem o devido pagamento de impostos. A outra denúncia terá como fundamento notícia do jornal "Correio Braziliense" na qual Aluísio Guimarães Filho, agente da Polícia Federal (PF) cedido pela presidência da República ao senador José Sarney na cota de funcionários de ex-presidentes da República, passava informações sigilosas da PF ao empresário Fernando Sarney, investigado pela PF na Operação Boi Barrica.



A assessoria do senador Cristovam Buarque havia informado à imprensa que as novas denúncias seriam protocoladas amanhã, mas, por orientação do senador Arthur Virgílio, os documentos foram registrados por um funcionário de seu gabinete já na noite de hoje. Segundo a assessoria de Virgílio, houve uma falha na comunicação entre o gabinete de ambos os senadores, pois a opção do senador tucano sempre fora pela oficialização dos novos pedidos hoje.



Como algumas das representações contra José Sarney tratam todas do mesmo teor, o presidente do Conselho de Ética do Senado, Paulo Duque (PMDB-RJ), deve propor que sejam unificadas, segundo informação de um interlocutor do senador à Agência Estado. As representações que poderiam ser unificadas são quatro: duas delas - uma registrada pelo PSDB e outra pelo PSOL - pedem ao conselho que investigue a responsabilidade de Sarney na edição de atos secretos; e duas - também apresentadas cada uma por um destes partidos - pedem a apuração da possível participação de José Sarney no esquema de desvio de dinheiro de patrocínio cultural da Petrobras pela fundação que leva seu nome.



Das cinco representações recebidas pelo Conselho de Ética contra Sarney, apenas uma não seria vinculada: aquela em que o PSDB pede ao Conselho de Ética a apuração de suspeita de favorecimento do presidente do Senado a seu neto José Adriano Cordeiro Sarney, cuja empresa operava crédito consignado a servidores da Casa.



Paulo Duque, apesar de ter a prerrogativa, como presidente do Conselho, de arquivar sumariamente as representações contra Sarney, não estaria disposto a enfrentar o desgaste político dessa opção. Ele estaria confiante em que, ao entregar aos conselheiros a decisão sobre as representações, a maioria deles pedirá o arquivamento delas. Dez dos quinze senadores do Conselho de Ética são da base aliada ao governo.

15 de julho de 2009

51º CONUNE

Serão mais de 25 mesas debatendo diversos temas de interesse dos brasileiros

Entre os dias 15 de julho e 19 de julho, a cidade de Brasília sediará 51º Congresso da UNE (CONUNE). Durante os quatro dias, a entidade espera reunir cerca de 15 mil estudantes, entre delegados (eleitos nas universidades), observadores credenciados, personalidades políticas e convidados, reunidos em torno de uma ampla programação de debates, painéis, plenárias, passeatas, além de diversas atividades culturais.

A mesa de abertura debaterá o projeto nacional de desenvolvimento e a crise mundial, estarão presentes a vereadora de Maceió e presidente nacional do PSOL, Heloísa Helena, o deputado federal do PSB, Ciro Gomes, o deputado federal do PCdoB, Aldo Rebelo, o deputado federal e secretário geral do PT, José Eduardo Cardozo e Dilma Roussef, Ministra da Casa Civil.

Serão mais de 25 mesas debatendo diversos temas de interesse dos brasileiros, entre eles: O protagonismo da Juventude Brasileira, 30 anos de anistia no Brasil; Meio ambiente e desenvolvimento sustentável; democratização dos meios de comunicação; a reforma universitária da UNE; políticas publicas de cultura e lei rouanet; cultura digital, direito da mulher, entre outros.

Diversas figuras públicas estarão presentes no 51º Congresso da UNE. Já estão confirmados os nomes de Beto Cury, Secretário Nacional da Juventude; Carlos Minc, Ministro do Meio Ambiente; Celso Amorin, Ministro das Relações Exteriores; Paulo Betti e Juca Ferreira; o Ministro da Saúde, Temporão; Tarso genro, Ministro de Justiça; o músico Marcelo Yuca; Orlando Silva, Ministro dos Esportes; entre outros não menos importantes: Siga a programação na íntegra (sujeito a mudanças):

Mesa 1: Projeto Nacional de Desenvolvimento e a crise mundial

Heloísa Helena Vereadora de Maceió e Presidente Nacional do PSOL
Ciro Gomes Deputado Federal/PSB
Ciro Gomes Deputado Federal/PSB
José Eduardo Cardozo Dep. Federal/SP Secretário Geral do PT
Dilma Rouseff Ministra da Casa Civil


Mesa 2: O Protagonismo da juventude brasileira

Fabiana Costa Presidente do CEMJ/Doutoranda da PUC/SP
Arthur Poener Jornalista e Escritor do Livro "Poder Jovem"
Beto Cury Secretário Nacional de Juventude
Renan Thiago OCLAE
David Barros Presidente do Conselho de Juventude
Paulo Henrique Lustosa Dep. Federal PMDB


Mesa 3: 30 anos da Anistia no Brasil

Paulo de Tarso Vannuchi Ministro da SEDH
Pedro Wilson Dep. Federal e Membro da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados
Cesar Brito Presidente do Conselho Federal da OAB
Paulo Abrão Presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça
PC do B araguaia indicação
Laís Wendel Abramo Diretora da OIT


Mesa 4: Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável

Dep. Eron Bezerra Secretário de Agricultura do Estado do Amazonas e Dep. Estadual (PCdoB
Carlos Minc Ministro do Meio Ambiente



Mesa 5: América Latina e Integração Sul-Sul


Celso Amorin Ministro de Relações Exteriores
Renan Thiago OCLAE
Mauricio Dorfler Ocampo Embaixador da Bolivia
Eduardo Mora-Anda Emabaixador do Equador
Júlio Garcia Mont Embaixador da Venezuela
Pedro Nuñez Mosquera Embaixador de Cuba
Dr Rosinha Dep. Federal PT/PR


Mesa 6: Democratização dos Meios de Comunicação

Renato Rovai Revista Fórum
Mino Carta Carta Capital
Rodrigo Viana Escrevinhador
Altamiro Borges Portal Vermelho


Mesa 7: A Ciência e Tecnologia e o desenvolvimento nacional

Marco Antonio Raupp Presidente da SBPC
Hugo Valadares Presidente da ANPG
Sergio Resende Ministro de C e T
Prof. Marco Antonio Zago Presidente do CNPq
Eduardo Gomes Representante da Comissão de C&t da Câmara dos Deputados
Prof Emerson Leal Vice Prefeito São Carlos


Mesa 8: A Reforma Universitária da UNE


Aloisio Teixeira Reitor da UFRJ
Reitor Naomar de Almeida Reitor da UFBA
Reitor Alan Barbiero Presidente da ANDIFES
Diretor UNE
Javier Alfaia Dep. Estadual do PCdoB Ex-Presidente da UNE
Profa Ligia Pupatto Secretária de C&T do Paraná


Mesa 9: Juventude, Trabalho e Políticas Públicas


Paul Singer
Marcio Pochemann ou José Abrão
CTB
CUT Anderson Campos
Adriano Cruz CGTB
Carlos Odaf Reunião Especializada da Juventude do Mercosul -REJ
Aguardando Indicação OIT ( indicação)


Mesa 10: Políticas Públicas de Cultura e a Lei Rouanet

Eduardo Coutinho
Juca Ferreira
Paulo Betti
José de Abreu
Angelo Vanhoni
Alexandre Santini Coordenador Geral do CUCA




Mesa 11: Direitos das Mulheres

Liege UBM
Glaucia Morelli CMB
Louise Caroline Secretaria de Mulheres de Caruaru
IPAS

Mesa 12: Cultura Digital

Eduardo Coutinho
Juca Ferreira Ministro da Cultura
Intervozes


Mesa 13: Juventude, Saúde e Políticas Públicas

Francisco Batista Junior Conselho Nacional de Saúde
Temporão Ministro da Saúde
Centro brasileiro de Estudos de Saúde
Ana Estela Haddad ou Helena Petta


Mesa 14: Reforma Política


Flavio Dino (Renildon Calheiros) Deputado PCdoB/Ma
Eduardo Campos
PMDB (???)
Dep. Ivan Valente Deputado do PSOL
Brizola Neto (PDT)


Mesa 15: Regulamentação do ensino privado

Dra. Lia Ouvidoria da UNE
Dr. Peterson Pereira Procurador da República


Mesa 16: Os desafios da construção do Sistema Nacional de Educação

Francisco das Chagas Coordenador da Comissão Organizacional Nacional da CONAE/MEC
Madalena Guasco Presidente da CONTEE
Helena Freitas Professora Doutora da UNICAMP/ANFOP
Roberto Franklin Leão Presidente da CNTE


Mesa 17: Meia-entrada: Uma Luta Histórica

ANPG
UBES
UNE
Chico Lopes Dep. PCdoB/Ce e Membro da Comissão do Consumidor da Câmara dos Deputados
Dra Lia Ouvidoria da UNE
Gabriel Alves Ex-Tesoureiro da UNE



Mesa 18: Juventude, Segurança e Políticas Públicas

Tarso Genro Ministro da Justiça
Padilha Diretor da Tropa de Elite
Marcelo Yuca Ativista Social e Músico
Protogenes Queiroz Delegado da PF


Mesa 19: Reforma Agrária no Brasil


João Paulo MST
Secretário do Rio Grande do Norte
MTL
MLST
CONTAG
Plinio de Arruda Sampaio
FETRAF


Mesa 20: Políticas Públicas de Esporte e Juventude


Orlando Silva Ministro dos Esportes
Gustavo Petta Secretário de Esporte de Campinas
Lars Grael ex-secretário de esporte de SP
Luciano Cabral CDDU
Manuela D'Ávila Presidente da Frente Parlamentar da Câmara dos Deputados
CEMJ


Mesa 21: Contra a criminalização dos Movimentos Sociais


João Paulo MST
CTB
CGTB
Intersindical
Spis CMS
Ismael Cardoso UBES
Arthur Henrique Santos CUT
UNEGRO
UBM

Mesa 22: Discriminalização das Drogas

Bruno Vanhoni
Paulo Teixeira (Dep. Federal do PT)
Sergio Vidal Membro do Conselho Nacional Anti-Drogas


Mesa 23: Educação à Distância

Prof. Fredric Michael Litto Presidente da ABED
Dr. João Viana Diretor do Campus Unisulvirtual
Carlos Eduardo Bielschowsky Secretário de Ensino a Distância/MEC
EADECON

10 de julho de 2009

Rebeldias, lutas e passe livre - uma hist[oria a se refletir

(Texto publicado no Jornal "Passe, livre, sem limites" 01)
Mandela Pereira Loureço

A pauta do passe livre ou meia passagem para estudantes é muito antiga. Já em 1918 estudantes de córdoba (Argentina) reivindicavam o passe livre em uma ocupação universitária. Em diferentes países da América Latina (Chile, Bolívia, Venezuela, Equador, Argentina) temos notícias de lutas semelhantes no decorrer da história. No Brasil a pauta já foi apresentada por diversas entidades estudantis desde no mínimo 60 anos atrás. O legado destas lutas é de tamanha relevância que cidades como Rio de Janeiro e Cuiabá já tem passe livre para setores estudantis há algumas décadas.

Geralmente estas lutas apresentam uma argumentação comum: a/o estudante não deve pagar para chegar à escola, dado que a educação pública e gratuita é um direito e deve ser assegurada pelo estado - faz-se a vinculação de educação e transporte, prevalecendo a educação na mobilidade urbana.

No do MPL desenvolvemos esta linha, ampliando a discussão em dois sentidos: entendemos a educação como um bem social assim como saúde, saneamento básico, moradia e cultura, pensando no amplo direito à cidade. Transporte para nós é também um bem essencial para as cidades, estando inserido em um amplo debate sobre a mobilidade urbana, que é a circulação livre dos serviços, bens e das pessoas na cidade - por isso o transporte não pode ser uma mercadoria (viver em função do lucro empresarial). Simplificando, o MPL luta pra que todo mundo possa ir à escola, hospital, teatro, biblioteca e que a biblioteca, teatro, escola e hospital também estejam em vários pontos da cidade sem centralização.

Além disso, damos uma tônica antisistêmica à luta, buscando reconhecer quais contradições da sociedade capitalista enfrentamos na nossa realidade. O racismo está presente, pois transporte é uma forma de segregação social. O machismo também, pois a mobilidade necessária é restringida pelos perigos que mulheres enfrentam ao andarem sozinhas pelas ruas a noite, por exemplo. E sabemos também que hospitais e escolas hoje servem mais pros patrões que pra população, e por isso lutamos por outra forma de organização da sociedade.

O Passe Livre Estudantil (P.L.E.) é, em nossa leitura, um começo de uma discussão mais ampla de sociedade, e deve estar orientado por alguns princípios. O MPL lançou em 2004 no DF o passe livre com base em alguns presuspostos: 1) o estado deveria pagar inteiramente a passagem, para acabar com o rateio entre outrxs usuários/as da meia passagem (reduzindo a tarifa); 2) o passe livre para além do trajeto casa-escola-casa, em qualquer horário, dia da semana ou ano, sem distinção de "quando-onde-como-porque", pensando a educação ampla do direito à cidade; 3) O P.L.E. é para toda e qualquer estudante, em qualquer grau; 4) não tem porque alguém perder o direito por conta de burocracias estatais ou de suposto "uso indevido" do passe livre, pois circular pela cidade, em qualquer situação, é exercer o direito a ela, não há nada de indevido nisso.

Fizemos, todavia, a vinculação constante da luta pelo passe livre à luta contra este sistema de transportes mercadológico, denunciando a sua forma arbitrária de organização. Em diversos momentos a luta do passe livre foi convertida em luta contra o aumento das passagens, e vice-versa. Desta vinculação do específico com o geral, do passe livre até os transportes e dos transportes até a sociedade é que intervimos na conjuntura do DF e Brasil.

Outros projetos de passe livre surgiram na sociedade, contemplando parcial ou totalmente estas perspectivas apresentadas. foram o passe social, o passe livre só casa-escola-casa, o passe livre só para escola pública secundarista, o passe livre com subsídio de só um terço pelo estado, e agora esse passe livre com lucro para os empresários. Apesar das diferentes justificativas todos estes projetos mantiveram preconceitos e restrições à idéia central de que o transporte é um direito social e, para ser público, tem que ser pago totalmente pelo estado por meio da receita dos impostos - em especial da parcela mais rica da sociedade. Também por isso permanecemos sempre apresentando nossas concepções de forma autônoma, independente e radicalizada.

Nossas inspirações locais pra realizarmos esta forma de luta no DF vieram, certamente, de muitas teorias, práticas sociais e outros movimentos políticos relevantes. Em especial duas recentes mobilizações formaram um certo paradigma pra gente: a Revolta do Buzú (Salvador, 2003) e a Revolta da Catraca (Florianópolis, 2004 e 2005). Trataram-se de fatos marcantes em que a população saiu às ruas em rebeldia e radicalização, alcançando parcial ou totalmente seus objetivos.

Os exemplos de Salvador e Floripa se converteram em mitos folclóricos para nossa luta - pois geralmente só relatávamos as partes convenietes da história daquelas complexas lutas. Elas também deixaram para nós um paradigma de conquista do passe livre: cercariamos a camara dos deputados ou o prédio do executivo com uma enorme mobilização, intimidariamos o governo que amedrontadíssimo implementaria o passe livre, com a faca na garganta. Nossas pretensões tinham então muito de heroísmo e relações simplistas de causa e efeito.

Essas imagens fantasiosas também ocorreram porque quando iniciamos a construção do Movimento Passe Livre no DF havia - como ainda há - mais que a vontade da conquista da pauta. Pelas nossas pretensões gerais de transformação revolucionária da realidade, por sermos novas agentes na sociedade e na luta de classes, nossa perspectiva era também de realizar a conquista unicamente pelos meios radicais que implementamos na luta. Era certamente uma mentalidade de guerra - necessária em vários momentos, mas não pro cotidiano da luta. Acredito, com um pouco de ironia, que estas pretensões de ser rambo não se sustentaram, pois inclusive este simpático ícone é uma representação de muito do que negamos - é a figura do heróico ocidental, machista, racista e imperial. Certamente a precisávamos de outras figuras pro nosso imaginário, pois a luta por um mundo novo não é feita em capítulos ou narrativas de começo, meio e fim bem definidas. E as personagens são complexas e contraditórias, necessariamente.

Mas nossa trajetória não foi só esse desespero sonhador. Realizamos importantes lutas e reconstruímos diferentes significações na cidade tanto nos transportes como também contribuímos para a cultura geral de lutas dos movimentos sociais na cidade. O MPL, junto com vários outros movimentos, participou da retomada de conceitos como ação direta, horizontalidade, rebeldia e irreverência na luta. Também aqui ajudamos a desenvolver alguns conceitos de luta política na cidade, como Catracaços, Escrachos, Ressignificações Urbanas, Okupas, entre outras. O nosso Exército Revolucionário Insurgente de Palhacis (E.R.I.P.), talvez seja a maior expressão disso tudo. Mas voltemos ao passe livre, que ainda estamos por conquistar de fato.

O caminho trilhado pelo MPL foi diferente da velocidade, radicalidade e causalidade que projetamos: no fim das contas, os conceitos "radicais e rebeldes" que apresentamos à sociedade foram incorporados em boa medida pelas instituições contra as quais lutamos. E, contraditoriamente, fomos ganhando espaço e respeito dentro de diversos espaços do sistema vigente. Assim, nossa ampla aceitação e reverência em espaços contraditórios da sociedade, como Universidades, Parlamento, Partidos políticos, Organizações burocráticas e até mesmo da mídia capitalista (que usa nossas manifestações e pautas como espetáculo para vender jornais), gerou a pressão social necessária para que a pauta avançasse. Mais que isso, o próprio poder executivo e o empresariado dos transportes assumem agora nossa pauta, porém dando uma roupagem e configuração que possibilite o maior lucro e projeção política.

Mas que situação! Pelo relato desenvolvido até agora parece que a forma e conteúdo da nossa luta estão sendo assimilados pela sociedade, e nossa proposta política apropriada pelos inimigos de classe. Mas o grande desafio é justamente esse, dado que um movimento que resiste no decorrer do tempo enfrenta momentos complexos. Nossa situação agora se recheia de contradições: não podemos, como muitos movimentos fazem, seguir da vitória parcial à acomodação ao sistema. As contradições que geramos à sociedade capitalista por meio da luta do passe livre deram um saldo importante. Mas trata-se agora de gerar novas contradições e insistir nas que não foram vencidas ainda - daí partimos à luta pela tarifa zero, para ampliar a discussão que iniciamos. Mais que isso, nossa organização e formas de trabalho não se alteraram: ainda somos um movimento que busca construir desde dentro aquele mundo novo que projetamos, e nossa principal forma de luta ainda é a ação direta. O nosso fim, como já apresentado, ainda é uma vida sem catracas, libertária. Até lá ainda falta um longo caminho. Dado que já o iniciamos e tudo que fizemos, interromper esta caminhada será muito pior que prossegui-la.

3 de julho de 2009

QUEDA NA DECADÊNCIA

Ontem fui cobrir a queda do Sarney mas acabei caindo antes dele. Na verdade acabaram "me" caindo.

Na entrada do Coronel Sarney ao Senado fui recebido com empurrão e socos de um segurança. Ele impediu que eu caminhasse e disse: "O Sarney não quer responder". Eu disse "Tudo bem, mas eu quero perguntar". Consegui sair do primeiro segurança. Mas logo fui recebido por outro segurança com um gesto de dar inveja aos caras do NX-Zero: o cara me segurou forte por trás.

Após eu ser agarrado por trás fui jogado no chão. Quando eu estava lá embaixo consegui enxergar os princípios da política nacional. Pensei: "Ah...então é aí que você estava esse tempo todo! Nesse chão sujo".

Levantei preocupado, pois senti que tive meu cabelo despenteado. Mas consegui superar isso e me dirigi até o elevador. Falei antes que a porta fechasse: "Fizeram comigo o que querem fazer com o senhor. Me derrubaram".

No fim das contas a matéria repercutiu por aí e a Polícia Federal do Senado baseou sua defesa no argumento que ninguém me agarrou, pelo contrário, eu que me joguei. E de fato eles tem razão. Eu fiz isso logo após ter batido com minha canela na sola do sapato do segurança e logo após eu ter encaixado meu corpo nos braços do capanga. Quando se passa muito tempo defendendo mentirosos é aceitável que um dia você se defenda com a mentira.

Terminando com o velho discursinho, quero dizer que acredito que numa democracia eu tenho o direito de perguntar e você tem o direito de não responder. E o segurança tem o direito de me agredir. Digo... ele teria esse direito se ao invés de numa democracia vivessemos numa anarquia. E eu juro que simpatizo mais com a anarquia do que com a democracia. Porém quando a anarquia pode ser praticada só por um lado então não é anarquia. É tirania. Ou filho-da-putice, como chamam isso na minha rua.

O que eu posso dizer é que amo o que faço e fico feliz de saber que enquanto fizer humor político no Brasil jamais vai faltar matéria-prima de primeira pro meu trabalho.


Escrito por Danilo Gentili em seu BLOG

1 de julho de 2009

Honduras: a futilidade do golpe

por Atilio A. Boron

O povo hondurenho resiste. A história repete-se e, muito provavelmente, conclui-se da mesma maneira. O golpe de estado nas Honduras é uma re-edição do que se perpetrou em Abril de 2002 na Venezuela e daquele que foi abortado na Bolívia no ano passado, após a fulminante reacção de vários governos da região. Um presidente violentamente sequestrado durante a madrugada por militares encapuzados, seguindo ao pé da letra o que indica o Manual de Operações da CIA e a Escola das América para os esquadrões da morte; uma carta de renúncia apócrifa que foi divulgada a fim de enganar e desmobilizar a população — e que foi de imediato retransmitida para todo o mundo pela CNN sem confirmar previamente a veracidade da notícia; a reacção do povo que, consciente da manobra, sai às ruas para deter os tanques e os veículos do Exército com as mãos limpas e exigir o retorno de Zelaya à presidência; o corte da energia eléctrica para impedir o funcionamento da rádio e da televisão e semear a confusão e o desânimo. Tal como na Venezuela, mal encarceraram Hugo Chávez os golpistas instalaram um novo presidente: Pedro Francisco Carmona, rebaptizado pela criatividade popular como "o efémero". Quem desempenha o seu papel nas Honduras é o presidente do Congresso unicameral desse país, Roberto Micheletti, que neste domingo juro como mandatário provisório e só um milagre o impediria de correr a mesma sorte que o seu antecessor venezuelano.

O que aconteceu nas Honduras põe em evidência a resistência que provoca nas estruturas tradicionais de poder qualquer tentativa de aprofundar a vida democrática. Bastou que o presidente Zelaya decidisse convocar uma consulta popular – apoiada com a assinatura de mais de 400 mil cidadãos – sobre uma futura convocatória a uma Assembleia Constitucional para que os diferentes dispositivos institucionais do estado se mobilizassem para impedi-lo, desmentindo desse modo o seu suposto carácter democrático: o Congresso ordenou a destituição do presidente e uma sentença do Tribunal Supremo validou o golpe de estado. Foi nada menos que este tribunal quem emitiu a ordem de sequestro e expulsão do país do presidente Zelaya , perfilhando como fez ao longo de toda a semana a conduta sediciosa das Forças Armadas.

Zelaya não renunciou nem solicitou asilo político na Cosa Rica. Foi sequestrado e expatriado, e o povo saiu às ruas para defender o seu governo. As declarações que conseguem sair de Honduras são claríssimas nesse sentido, especialmente a do líder mundial da Via Campesina, Rafael Alegría. Os governos da região repudiaram o golpismo e no mesmo sentido manifestou-se Barack Obama ao dizer que Zelaya "é o único presidente de Honduras que reconheço e quero deixar isso muito claro". A OEA exprimiu-se nos mesmos termos e na Argentina a presidenta Cristina Fernández declarou que "vamos promover uma reunião da Unasur, ainda que Honduras não faça parte desse organismo, e vamos exigir à OEA o respeito da institucionalidade e a reposião de Zelaya, além de garantias para a sua vida, sua integridade física e da sua família, porque isso é fundamental, porque é um acto de respeito à democracia e a todos os cidadãos".

A brutalidade de toda a operação tem a marca indelével da CIA e da School of Americas: desde o sequestro do presidente, enviado em pijama para a Costa Rica, e o insólito sequestro e as pancadas dadas em três embaixadores de países amigos: Nicarágua, Cuba e Venezuela, que se haviam aproximado da residência da ministra das Relações Exteriores de Honduras, Patrícia Rodas, para exprimir-lhe a solidariedade dos seus países, passando pela ostentatória exibição de força feita pelos militares nas principais cidades do país com a intenção clara de aterrorizar a população. Na ultima hora da tarde impuseram o toque de recolher e existe uma censura estrita da imprensa, apesar do que não se sabe de declaração alguma da Sociedade Interamericana de Prensa (sempre tão atenta perante a situação dos media na Venezuela, Bolívia e Equador) a condenar este atentado contra a liberdade de imprensa.

Cabe recordar que as forças armadas das Honduras foram completamente reestruturadas e "re-educadas" durante os anos oitenta, quando o embaixador dos EUA nas Honduras era nada menos que John Negroponte, cuja carreira "diplomática" conduziu-o a destinos tão distintos como Vietname, Honduras, México, Iraque, para posteriormente encarregar-se do super-organismo de inteligência do seu país chamado Conselho Nacional de Inteligência. A partir de Tegucigalpa monitorou pessoalmente as operações terroristas realizadas contra o governo sandinista e promoveu a criação do esquadrão da morte mais conhecido como o Batalhão 316, que sequestrou, torturou e assassinou centenas de pessoas dentro de Honduras enquanto nos seus relatórios para Washington negava que houvesse violações dos direitos humanos nesse país. Certa vez o senador estado-unidense John Kerry demonstrou que o Departamento de Estado havia pago 800 mil dólares a quatro companhias de aviões de carga pertencentes a grandes narcos colombianos para transportassem armas para os grupos que Negroponte organizava e apoiava nas Honduras. Estes pilotos testemunharam sob juramento, confirmando as declarações de Kerry. A própria imprensa estado-unidense informou que Negroponte esteve ligado ao tráfico de armas e de drogas entre 1981 e 1985 com o objectivo de armar os esquadrões da morte, mas nada interrompeu a sua carreira. Essas forças armadas são as que hoje depuseram Zelaya. Mas a correlação de forças no plano interno e internacional é tão desfavorável que a derrota dos golpistas é só questão de (muito pouco) tempo.

28/Junho/2009
[*] Director do Programa Latino-americano de Educação a Distancia em Ciências Sociais (PLED), Buenos Aires, Argentina

O original encontra-se em http://www.atilioboron.com