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22 de fevereiro de 2009

A esquerda enfrenta a dura carpintaria da história

Em meio às angústias que assombram trabalhadores e a classe média, emparedados entre a fatalidade de uma ordem que se liquefaz e um futuro que nada propõe exceto agonia, parte dos teóricos da esquerda agarra-se à discussão metafísica de modelos, desobrigando-se de assumir a dura carpintaria de construção da história nesse momento. A análise é de Saul Leblon.

Saul Leblon

A crise mundial desencadeou um salutar debate sobre o desenvolvimento contribuindo para desbloquear a memória e o imaginário social, entorpecidos por sonolentas décadas de monólogo conservador. Por quase 30 anos despejou-se sobre a sociedade uma peroração cotidiana que reafirmava a virtude dos mercados desregulados para promover o crescimento, a inovação, a modernidade, a eficiência, a liberdade, orgasmo e a cura para a calvice.

Jornalões, colunas e colunistas, em especial nas editorias de economia, funcionaram esse tempo todo como uma espécie corregedoria ideológica do fim da história. Dentro e fora das redações, cuidavam de vigiar, punir e desqualificar quem ousasse argüir o mainstream, bem como o perímetro por ele reservado à democracia.

A universidade deve à história um livro branco sobre o peso da mídia nessa dialética de propaganda e vigilância. Não uma caça às bruxas que mimetize o objeto. Mas uma análise substantiva sobre como, sob a roupagem do 'especialista', valendo-se de uma novilíngua afiada, a imprensa exerceu por tanto tempo um poder equivalente ao do Grande Irmão, conseguindo inculcar no cidadão médio preconceitos como "gastança pública" e "custo Brasil". Foi assim que ela lapidou uma narrativa de mundo que viria demonizar como ineficiente o que era eficiente socialmente; como liberdade, o que restringia a democracia em benefício da livre circulação do dinheiro.

A derrocada de tudo aquilo que até há bem pouco atestava como inútil a busca de novas formas de viver e de produzir, assume assim a contundência de um pé-de-cabra que arromba as portas da história.

Abertas abruptamente, porém, senzalas materiais ou imateriais muitas vezes revelam a perplexidade dos libertos ao primeiro facho de luz. A vertigem, no caso, não parece ter poupado a própria esquerda.

Em meio às angústias que assombram trabalhadores e a classe média, emparedados entre a fatalidade de uma ordem que se liquefaz e um futuro que nada propõe exceto agonia, parte dos teóricos da esquerda agarra-se à discussão metafísica de modelos, desobrigando-se de assumir a dura carpintaria de construção da história nesse momento.

Uma das mais óbvias distinções entre o materialismo histórico e o idealismo é o reconhecimento de que a transformação da sociedade só é possível a partir de seus agentes de carne e osso, portadores de conflitos de pedra e cal.

Mas, perguntam teóricos da esquerda enquanto pau come solto nas vizinhanças, isto é, no mundo real: com ou sem regulação da economia pelo Estado nacional? Com ou sem estatização de bancos? Com ou sem indução de investimentos públicos? Com ou sem políticas públicas de garantia de emprego? Keynesianismo, mas como, na globalização? Socialismo, mas sem sujeito histórico proletário?

É interessante observar a desenvoltura eclética –para dizer o mínimo-- com que representantes do capital transitam por essas escolhas, ferramentas e campos conceituais postos na ordem do dia pela crise. Enquanto intelectuais de esquerda multiplicam as listas do que não é possível fazer –tudo, exceto o aprisco seguro de uma teoria da revolução mundial-- expoentes do establishment, desde um progressista Paul Krugman a um atilado analista como Nouriel Roubini; de Ângela Merkel a Gordon Brown, passando pelos insuspeitos Alan Greenspan e Nicolas Sarkozy, ninguém hesita em recorrer ao ferramental disponível, tenha ele o carimbo ideológico que tiver. A saber, da demissão em massa, à estatização de bancos; da emissão de moeda em quantidades industriais, a gastos fiscais pantagruélicos que cospem sem cerimônia no prato diet de alface e rabanete do Tratado de Maastricht.

O recado é claro: há uma desordem em marcha e ela ameaça o poder político do capitalismo. Vale tudo para evitá-lo. O Estado, suas políticas e fundos públicos oferecem a necessária dose de centralização, escala e capacidade de comando para ocupar o vácuo aberto pela finança em decomposição. "Momentaneamente", desculpam-se uns; "uma vez a cada cem anos", delimita Alan Greenspan; mas o fato é que se recorre a ele quando a escolha é salvar os dedos ou perder toda a mão invisível legada por Adam Smith.

Tamanha versatilidade não ofusca a derrota ideológica dos aparatos conservadores no centro e na periferia do sistema. Mas deixa claro que o avanço das demandas populares não ocorrerá porque o City Bank escorrega na ladeira de uma estatização provisória; ou a GM –maior montadora mundial até 2001-- debulha-se em perdas numa rota de falência assistida pelo Estado. Há substitutos em marcha para os mortos canibalizados pelo darwinismo da crise. A voragem de fusões e compras amparadas em fundos públicos, empurra a onda submersa que busca desesperadamente recriar o novo devorando o DNA do velho.

O salto político da esquerda pressupõe alternativas concretas a essa transição. Respostas capazes, por exemplo, de transformar a coordenação provisória da riqueza financeira pelo Estado em ganho permanente da sociedade, subordinando de vez o poder dinheiro à democracia; como a estatização do crédito, por exemplo.

Em diferentes períodos da história, a luta pela transformação da sociedade incluiu interregnos de capitalismo de Estado, ora associados à ampliação do poder político das massas; ora vinculados a acontecimentos devastadores em que um poder de coerção superior foi posto integralmente a serviço da guerra e da demência autoritária. O caso clássico é a ascensão do nacional-socialismo na crise dos anos 30, quando se assistiu a uma recuperação fulminante da economia alemã, graças a políticas de capitalismo de Estado coordenadas pelo comando nazista.

Desde a NEP, de Lênin, porém, passando pela China atual até a revolução bolivariana de Chávez e Morales, a ampliação da influência popular sobre o Estado tem permitido, ao contrário, deslocar as prioridades do capital a favor das urgências da democracia e da justiça social. Se ainda não é a revolução, como de fato não é; se ainda se recorre a políticas keynesianas a contrapelo das restrições impostas pela globalização, como de fato se recorre - vide Bolívia e Venezuela - a verdade é que são esses interregnos que representam hoje o ponto mais avançado da luta de classes em todo o mundo. Portanto, da esperança de renovação da agenda socialista em nosso tempo.

A lição parece ser que a história avança a partir de imperfeições;não de modelos desprovidos de conteúdo histórico. Movimenta-a um entrelaçamento tenso entre forças novas e instrumentos velhos, muitas vezes renovados até o ponto de mutação. A esquerda terá papel relevante na dialética da crise mundial se conseguir enxergar-se como parte desse amálgama de restrições e possibilidades cercados de ruídos e imperfeições. Se renunciar à carpintaria da história para mergulhar na busca metafísica da solução pura, a salvo de contradições, será tratorada pela desenvoltura ecumênica da força-tarefa capitalista. Mais uma vez.

8 de fevereiro de 2009

Movimento Passe Livre realiza ato contra aumento de tarifas no DF

No começo da noite desta sexta-feira (06), cerca de duzentos manifestantes realizaram na rodoviária de Brasília ato contra o aumento das passagens de metrô e microônibus no Distrito Federal. O Movimento Passe Livre (MPL) organizou o primeiro de uma série de atos para combater o aumento de 50% nas passagens e questionar o projeto de transporte coletivo do DF.

No início do mês, os microônibus ficaram R$ 0,50 mais caros, custando R$ 1,50, e o metrô passou R$ 2,00 para R$ 3,00, a tarifa mais cara do país. Por ora, o aumento da passagem de ônibus está suspenso, mas não inteiramente descartado.

PROTESTO EM BRASÍLIA

  • Raoni Maddalena

    Manifestantes criticam aumento da tarifa do transporte público

  • Raoni Maddalena

    Apesar de momentos de tensão com policiais, ato foi pacífico

  • Raoni Maddalena

    Manifestante exibe cartaz em protesto contra aumento de tarifas

"O meu dinheiro não é capim, eu pulo a catraca sim"
O MPL é um movimento social estruturado em mais de dez cidades brasileiras que luta por um sistema de transporte público que não esteja nas mãos da iniciativa privada e não funcione como mercadoria. Entende que o acesso à cidade é um direito fundamental e deve ser considerado serviço essencial, como saúde, educação e segurança, sendo plenamente financiado pelo Estado. A proposta mais ousada do movimento é a tarifa zero, onde os custos do transporte seriam pagos por meio de impostos progressivos, como o imposto de renda, onde quem recebe mais paga mais.

Uma bandeira representando um mundo sem catracas foi o ponto de encontro para as dezenas de manifestantes que se agrupavam conforme a tarde terminava e o fluxo na rodoviária aumentava. A passeata começou com faixas erguidas, batuque aquecido, apitos na mão e cantos de protestos. "Você aí parado, também é explorado" ou "Se a passagem não baixar, olê olê olá, eu vou pular". O governador do DF, José Roberto Arruda (DEM) era alvo preferencial: "Arruda, presta atenção, você não anda de busão".

Novos grupos de policiais chegavam a todo momento para acompanhar o ato. Cacetete em punho, delimitavam as fronteiras do grupo de manifestantes e impediam que fechassem ruas ao redor da rodoviária. Junto com os primeiros momentos de tensão apareceram os policiais dispostos a retirar sua identificação para agir anonimamente. Com câmera em punho, uma manifestante cobrou a identificação de um policial: "está aqui", respondeu enquanto quebrava com as mãos o aparelho da jovem. Apesar disso, a manifestação foi pacífica.

"Dentro do amplo movimento dos que lutam pelo direito à cidade, somos os interlocutores da pauta pela mobilidade urbana. Entendemos que o transporte de hoje é coletivo, não público. Um serviço, para ser público, precisa se diferenciar do privado, ser de acesso a todos. Diz o IBGE que mais de 30 milhões de pessoas não podem andar de ônibus por falta de recursos para pagar. E aí como fica o direito de ir e vir?", avalia o militante que, para evitar perseguição política, prefere se identificar apenas como Paique.

Adriana Saraiva, doutoranda em Antropologia pelo Centro de Pesquisa e Pós-graduação sobre as Américas (CEPPAC) da UnB, pesquisa movimentos populares autônomos e está realizando um contraste entre o MPL do DF e grupos semelhantes nos EUA.

"Os modelos políticos partidários clássicos, centralizadores, hierárquicos, já não são mais suficientes para dar conta dos anseios dessa nova geração de mobilização política. E aí surgem esses grupos horizontais, autogestionados, não-hierárquicos, onde o poder é constantemente trabalhado para ser diluído da melhor forma possível entre seus membros. É um movimento sem líderes, multicéfalo, e exatamente por isso tão difícil de ser lidado por aqueles que têm cristalizado o modelo de Estado e partidos como forma exclusiva de manifestação política", avalia.

A pesquisadora elogia a discussão que vem sendo amadurecida pelo MPL: "O traçado de Brasília foi pensado para o automóvel em detrimento do transporte público. Hoje existe um apartheid entre o plano piloto [o projeto original da capital] e as cidades satélites, construiu-se um cinturão sanitário ao redor da concentração de poder. A população da margem tem direito a seu vale-transporte apenas para ir e voltar do trabalho, o que significa que ela não é bem vinda para usufruir do centro como área de vivência, de lazer, apenas para servir".

Outro lado
O Governo do Distrito Federal, por meio da assessoria de imprensa de sua secretaria de transportes, informou que o metrô vinha operando a preços promocionais e que, com a ampliação da malha e horário de funcionamento, tornou-se insustentável manter o valor antigo. Segundo dados do órgão, o número total de passageiros passou de 50 mil para 150 mil e cerca de 900 mil pessoas pegam ônibus ou microônibus todos os dias no DF.

Sobre o aumento dos micros, a secretaria aponta que mais da metade das linhas já operava a R$ 1,50 e que por um erro algumas linhas foram estabelecidas a R$ 1,00, o que quase levou o sistema à falência.

Outro ponto destacado é a ampliação do projeto de integração entre os diferentes meios de transporte. No momento, 20 linhas de microônibus e cinco de ônibus oferecem a possibilidade de integração, onde os usuários pagam R$ 3,00 para utilizar mais de um serviço, o mesmo preço que pagariam antes do aumento se tomassem um metrô e um microônibus. Espera-se que em no máximo quatro anos todo o sistema esteja integrado.

De acordo com a secretaria, mais de 50% da frota já foi renovada desde o começo do mandato de Arruda, em 2007, e o número deve chegar a 100% até o fim da gestão.

4 de fevereiro de 2009

ATO sexta-feira 06/02/2009


O QUE? ATO DO MPL-DF: ABAIXO ÀS TARIFAS
QUANDO? SEXTA-FEIRA, 06/02/09 ÀS 18 HORAS
ONDE? NA RODOVIÁRIA DO PLANO PILOTO-DF
QUE HORA? 18 HORAS

E, quando poucos esperavam, aumentou a - já muito cara - tarifa dos metrôs e micro-ônibus. O governo, dizendo que não queria colapsar os (empresários dos) transportes, colapsou as economias de milhares de tarifas. E o aumento foi de 50%!!! Nunca se viu tanta inflação assim nos transportes do DF, uma vergonha, coisa sinistra!! Os empresários dos transportes estão tentando tomar o DF de assalto. Ou melhor, com esse aumento o DF fica mais segregador, pois fica mais caro circular pela cidade!

O aumento das tarifas diminui nosso direito à cidade, pois com passagem cara é mais difícil andar pelo DF. E, se formos observar bem, enquanto houver tarifa ela vai aumentar. Então vamos lutar contra a própria tarifa! Parece loucura? Porque não tentar?

Por isso o Movimento Passe Livre resolveu chamar uma manifestaçãoo contra o aumento das tarifas do metrô e dos micro ônibus e contra o possivel aumento dos ônibus. Enquanto tiver tarifa, haverão aumentos. Ao mesmo tempo, haverá luta pelo seu fim.

Esse ato lancará a campanha pelo TARIFA ZERO!!!!

O QUE? ATO DO MPL-DF: ABAIXO ÀS TARIFAS
QUANDO? SEXTA-FEIRA, 06/02/09 ÀS 18 HORAS
ONDE? NA RODOVIÁRIA DO PLANO PILOTO
QUE HORA? 18 HORAS

Esperamos todos e todas lá!

Movimento Passe Livre do Distrito Federal
Por uma vida sem catracas!