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8 de fevereiro de 2009

Movimento Passe Livre realiza ato contra aumento de tarifas no DF

No começo da noite desta sexta-feira (06), cerca de duzentos manifestantes realizaram na rodoviária de Brasília ato contra o aumento das passagens de metrô e microônibus no Distrito Federal. O Movimento Passe Livre (MPL) organizou o primeiro de uma série de atos para combater o aumento de 50% nas passagens e questionar o projeto de transporte coletivo do DF.

No início do mês, os microônibus ficaram R$ 0,50 mais caros, custando R$ 1,50, e o metrô passou R$ 2,00 para R$ 3,00, a tarifa mais cara do país. Por ora, o aumento da passagem de ônibus está suspenso, mas não inteiramente descartado.

PROTESTO EM BRASÍLIA

  • Raoni Maddalena

    Manifestantes criticam aumento da tarifa do transporte público

  • Raoni Maddalena

    Apesar de momentos de tensão com policiais, ato foi pacífico

  • Raoni Maddalena

    Manifestante exibe cartaz em protesto contra aumento de tarifas

"O meu dinheiro não é capim, eu pulo a catraca sim"
O MPL é um movimento social estruturado em mais de dez cidades brasileiras que luta por um sistema de transporte público que não esteja nas mãos da iniciativa privada e não funcione como mercadoria. Entende que o acesso à cidade é um direito fundamental e deve ser considerado serviço essencial, como saúde, educação e segurança, sendo plenamente financiado pelo Estado. A proposta mais ousada do movimento é a tarifa zero, onde os custos do transporte seriam pagos por meio de impostos progressivos, como o imposto de renda, onde quem recebe mais paga mais.

Uma bandeira representando um mundo sem catracas foi o ponto de encontro para as dezenas de manifestantes que se agrupavam conforme a tarde terminava e o fluxo na rodoviária aumentava. A passeata começou com faixas erguidas, batuque aquecido, apitos na mão e cantos de protestos. "Você aí parado, também é explorado" ou "Se a passagem não baixar, olê olê olá, eu vou pular". O governador do DF, José Roberto Arruda (DEM) era alvo preferencial: "Arruda, presta atenção, você não anda de busão".

Novos grupos de policiais chegavam a todo momento para acompanhar o ato. Cacetete em punho, delimitavam as fronteiras do grupo de manifestantes e impediam que fechassem ruas ao redor da rodoviária. Junto com os primeiros momentos de tensão apareceram os policiais dispostos a retirar sua identificação para agir anonimamente. Com câmera em punho, uma manifestante cobrou a identificação de um policial: "está aqui", respondeu enquanto quebrava com as mãos o aparelho da jovem. Apesar disso, a manifestação foi pacífica.

"Dentro do amplo movimento dos que lutam pelo direito à cidade, somos os interlocutores da pauta pela mobilidade urbana. Entendemos que o transporte de hoje é coletivo, não público. Um serviço, para ser público, precisa se diferenciar do privado, ser de acesso a todos. Diz o IBGE que mais de 30 milhões de pessoas não podem andar de ônibus por falta de recursos para pagar. E aí como fica o direito de ir e vir?", avalia o militante que, para evitar perseguição política, prefere se identificar apenas como Paique.

Adriana Saraiva, doutoranda em Antropologia pelo Centro de Pesquisa e Pós-graduação sobre as Américas (CEPPAC) da UnB, pesquisa movimentos populares autônomos e está realizando um contraste entre o MPL do DF e grupos semelhantes nos EUA.

"Os modelos políticos partidários clássicos, centralizadores, hierárquicos, já não são mais suficientes para dar conta dos anseios dessa nova geração de mobilização política. E aí surgem esses grupos horizontais, autogestionados, não-hierárquicos, onde o poder é constantemente trabalhado para ser diluído da melhor forma possível entre seus membros. É um movimento sem líderes, multicéfalo, e exatamente por isso tão difícil de ser lidado por aqueles que têm cristalizado o modelo de Estado e partidos como forma exclusiva de manifestação política", avalia.

A pesquisadora elogia a discussão que vem sendo amadurecida pelo MPL: "O traçado de Brasília foi pensado para o automóvel em detrimento do transporte público. Hoje existe um apartheid entre o plano piloto [o projeto original da capital] e as cidades satélites, construiu-se um cinturão sanitário ao redor da concentração de poder. A população da margem tem direito a seu vale-transporte apenas para ir e voltar do trabalho, o que significa que ela não é bem vinda para usufruir do centro como área de vivência, de lazer, apenas para servir".

Outro lado
O Governo do Distrito Federal, por meio da assessoria de imprensa de sua secretaria de transportes, informou que o metrô vinha operando a preços promocionais e que, com a ampliação da malha e horário de funcionamento, tornou-se insustentável manter o valor antigo. Segundo dados do órgão, o número total de passageiros passou de 50 mil para 150 mil e cerca de 900 mil pessoas pegam ônibus ou microônibus todos os dias no DF.

Sobre o aumento dos micros, a secretaria aponta que mais da metade das linhas já operava a R$ 1,50 e que por um erro algumas linhas foram estabelecidas a R$ 1,00, o que quase levou o sistema à falência.

Outro ponto destacado é a ampliação do projeto de integração entre os diferentes meios de transporte. No momento, 20 linhas de microônibus e cinco de ônibus oferecem a possibilidade de integração, onde os usuários pagam R$ 3,00 para utilizar mais de um serviço, o mesmo preço que pagariam antes do aumento se tomassem um metrô e um microônibus. Espera-se que em no máximo quatro anos todo o sistema esteja integrado.

De acordo com a secretaria, mais de 50% da frota já foi renovada desde o começo do mandato de Arruda, em 2007, e o número deve chegar a 100% até o fim da gestão.

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