No início do mês, os microônibus ficaram R$ 0,50 mais caros, custando R$ 1,50, e o metrô passou R$ 2,00 para R$ 3,00, a tarifa mais cara do país. Por ora, o aumento da passagem de ônibus está suspenso, mas não inteiramente descartado.
PROTESTO EM BRASÍLIA
Manifestantes criticam aumento da tarifa do transporte público
Apesar de momentos de tensão com policiais, ato foi pacífico
Manifestante exibe cartaz em protesto contra aumento de tarifas
O MPL é um movimento social estruturado em mais de dez cidades brasileiras que luta por um sistema de transporte público que não esteja nas mãos da iniciativa privada e não funcione como mercadoria. Entende que o acesso à cidade é um direito fundamental e deve ser considerado serviço essencial, como saúde, educação e segurança, sendo plenamente financiado pelo Estado. A proposta mais ousada do movimento é a tarifa zero, onde os custos do transporte seriam pagos por meio de impostos progressivos, como o imposto de renda, onde quem recebe mais paga mais.
Uma bandeira representando um mundo sem catracas foi o ponto de encontro para as dezenas de manifestantes que se agrupavam conforme a tarde terminava e o fluxo na rodoviária aumentava. A passeata começou com faixas erguidas, batuque aquecido, apitos na mão e cantos de protestos. "Você aí parado, também é explorado" ou "Se a passagem não baixar, olê olê olá, eu vou pular". O governador do DF, José Roberto Arruda (DEM) era alvo preferencial: "Arruda, presta atenção, você não anda de busão".
Novos grupos de policiais chegavam a todo momento para acompanhar o ato. Cacetete em punho, delimitavam as fronteiras do grupo de manifestantes e impediam que fechassem ruas ao redor da rodoviária. Junto com os primeiros momentos de tensão apareceram os policiais dispostos a retirar sua identificação para agir anonimamente. Com câmera em punho, uma manifestante cobrou a identificação de um policial: "está aqui", respondeu enquanto quebrava com as mãos o aparelho da jovem. Apesar disso, a manifestação foi pacífica.
"Dentro do amplo movimento dos que lutam pelo direito à cidade, somos os interlocutores da pauta pela mobilidade urbana. Entendemos que o transporte de hoje é coletivo, não público. Um serviço, para ser público, precisa se diferenciar do privado, ser de acesso a todos. Diz o IBGE que mais de 30 milhões de pessoas não podem andar de ônibus por falta de recursos para pagar. E aí como fica o direito de ir e vir?", avalia o militante que, para evitar perseguição política, prefere se identificar apenas como Paique.
Adriana Saraiva, doutoranda em Antropologia pelo Centro de Pesquisa e Pós-graduação sobre as Américas (CEPPAC) da UnB, pesquisa movimentos populares autônomos e está realizando um contraste entre o MPL do DF e grupos semelhantes nos EUA.
"Os modelos políticos partidários clássicos, centralizadores, hierárquicos, já não são mais suficientes para dar conta dos anseios dessa nova geração de mobilização política. E aí surgem esses grupos horizontais, autogestionados, não-hierárquicos, onde o poder é constantemente trabalhado para ser diluído da melhor forma possível entre seus membros. É um movimento sem líderes, multicéfalo, e exatamente por isso tão difícil de ser lidado por aqueles que têm cristalizado o modelo de Estado e partidos como forma exclusiva de manifestação política", avalia.
A pesquisadora elogia a discussão que vem sendo amadurecida pelo MPL: "O traçado de Brasília foi pensado para o automóvel em detrimento do transporte público. Hoje existe um apartheid entre o plano piloto [o projeto original da capital] e as cidades satélites, construiu-se um cinturão sanitário ao redor da concentração de poder. A população da margem tem direito a seu vale-transporte apenas para ir e voltar do trabalho, o que significa que ela não é bem vinda para usufruir do centro como área de vivência, de lazer, apenas para servir".
Outro lado
O Governo do Distrito Federal, por meio da assessoria de imprensa de sua secretaria de transportes, informou que o metrô vinha operando a preços promocionais e que, com a ampliação da malha e horário de funcionamento, tornou-se insustentável manter o valor antigo. Segundo dados do órgão, o número total de passageiros passou de 50 mil para 150 mil e cerca de 900 mil pessoas pegam ônibus ou microônibus todos os dias no DF.
Sobre o aumento dos micros, a secretaria aponta que mais da metade das linhas já operava a R$ 1,50 e que por um erro algumas linhas foram estabelecidas a R$ 1,00, o que quase levou o sistema à falência.
Outro ponto destacado é a ampliação do projeto de integração entre os diferentes meios de transporte. No momento, 20 linhas de microônibus e cinco de ônibus oferecem a possibilidade de integração, onde os usuários pagam R$ 3,00 para utilizar mais de um serviço, o mesmo preço que pagariam antes do aumento se tomassem um metrô e um microônibus. Espera-se que em no máximo quatro anos todo o sistema esteja integrado.
De acordo com a secretaria, mais de 50% da frota já foi renovada desde o começo do mandato de Arruda, em 2007, e o número deve chegar a 100% até o fim da gestão.
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